segunda-feira, 17 de agosto de 2009

As ciências do Século XXI

O início de um século é sempre oportunidade para fazer previsões das mais diversas sobre como será o século. Como a maioria de nós não estará aqui para verificar as previsões, é tentador ousar. Vou hoje cair nessa tentação, e prever quais ciências mais se desenvolverão neste século que há pouco se iniciou.

Começo com um retrospecto do que aconteceu no Século XX, em que houve mais desenvolvimento tecnológico do que em todos os séculos anteriores somados. Há várias possíveis razões para tanto desenvolvimento em tão pouco tempo. Mas se eu tivesse que arriscar uma única razão, diria que foi crucial o decifrar da estrutura da matéria. Pois descobrir como são formados os átomos, e como eles se juntam para formar moléculas, líquidos e sólidos, foi essencial não só para entender a natureza, mas também permitir fabricar muitas coisas. Como os dispositivos eletrônicos de um computador e outros aparelhos.

A partir do advento de modelos que explicam a matéria, não é difícil entender por que a física, a química, e as engenharias tenham evoluído tanto. Além disso, à medida que problemas mais complexos puderam ser resolvidos, outras ciências foram beneficiadas. Até porque a matemática – na qual se baseia a segunda linguagem do conhecimento, a dos formalismos matemáticos – passou a ser utilizada de maneira crescente.

Um resultado de tanto desenvolvimento para a organização do conhecimento foi a proliferação de novas áreas. Para as engenharias, no início do Século XX havia apenas algumas modalidades, como Engenharia Civil, Engenharia Mecânica e uma incipiente Engenharia Elétrica. Um século depois, além das mencionadas, temos Engenharia de Alimentos, de Materiais, Eletrônica, Mecatrônica, Química, Ambiental, etc. O Século XX também assistiu à consolidação como áreas independentes da Lingüística, da Psicologia e Ciências Sociais, entre outras.

Terminamos o Século XX, portanto, com uma diversidade enorme de áreas do conhecimento, em grande contraste com os tempos da Grécia Antiga, em que a Filosofia englobava quase todas as fontes de conhecimento. É interessante notar, entretanto, que a Nanotecnologia, que tem caráter integrador e multidisciplinar, de certa forma retoma a idéia de uma área que abranja aspectos diversos do estudo da Natureza.

Chegou a hora das previsões. A minha primeira, talvez mais ou menos óbvia, é que continuaremos a ver grandes progressos em biologia e em áreas da saúde. Com o uso de metodologias experimentais e formalismos matemáticos cada vez mais sofisticados para entender sistemas biológicos, compreenderemos o “funcionamento” dos seres vivos de maneira mais e mais detalhada. Com as descobertas da genômica e produção de remédios a partir da nanotecnologia, por exemplo, acredito que em 20 ou 30 anos, os avanços em biologia, medicina e ciências da saúde em geral, permitirão um novo patamar para a vida humana. Não só com uma expectativa de vida maior, mas também com mais qualidade. Será influência direta dos benefícios da tecnologia.

Há, entretanto, muitos problemas da humanidade que não dependem só de tecnologia. Na verdade, não é por falta de tecnologia que nossos maiores problemas – fome, guerras, terrorismo, devastação do meio ambiente – não são resolvidos. Carecemos de vontade e união para resolver tais problemas. Precisamos, portanto, estudar e compreender o comportamento humano, desenvolver e implementar políticas sociais eficazes, encontrar meios de redistribuir riquezas.

Tudo isso está ligado às ciências humanas e sociais, cujo progresso pode ajudar a que atinjamos as metas acima. Por outro lado, por sua complexidade, essas áreas pouco se beneficiaram até o momento do uso de formalismos matemáticos. Prevejo que isso acontecerá nas próximas décadas, e fará deste o século das ciências sociais e humanidades.

2 comentários:

  1. Olá Professor Osvaldo. Assisti uma palestra que você ministrou aqui no Instituto de Física da UFG e me sinto muitíssimo excitado com toda a gama de desenvolvimento da tecnologia em torno da nanociência. Também achei muito interessante a sua área de pesquisa e toda discussão sobre as dificuldades dessa área, ou melhor dizendo, as dificuldades de interação das máquinas com as informações recebidas. Parabéns por todo seu conhecimento e afabilidade!
    Ah sim falei tanto que esqueci-me de apresentar-me: meu nome é Frederico e sou um Bacharel em Química Mestrando em Ciência de Materiais. Minha pesquisa no mestrado está sendo em síntese e estudo das propriedades magnéticas de ferritas.
    Sobre o artigo que acabei de ler aqui em sua página e sua apresentção aqui no instituto eu gostaria de fazer uma pequena observação: você disse que todo o avanço científico do nosso século é devido a elucidação da estrutura da matéria e no power point estavam as fotos de alguns físicos como Schrodinger, Heisenberg, mas esqueceu-se de Bohr que fundou a escola de Coppenhagen da Mecânica Quântica não?
    Isso é só uma pequena observação, mas nada de mal. Agradeço por todo o interesse que sua palestra me causou.
    Com os melhores desejos.
    Frederico Costa e Silva

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