segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Do que somos feitos

Há muito que a humanidade se indaga sobre nossa origem e do que é feito o mundo. Os primeiros relatos de que temos notícia vêm da Grécia Antiga, com a sugestão de que nosso planeta seria constituído de terra, água, fogo e ar. Ainda na Grécia Antiga, Demócrito e Leucipo sugeriram que tudo seria feito de átomos, constituintes indivisíveis. A propósito, o nome átomo que empregamos até hoje significa “sem divisão”, originário do grego em que “tomo” é divisão, e “a” é o prefixo de negação (sem).

A base científica para confirmar a idéia de que a matéria é constituída por átomos foi estabelecida muito tempo depois, no século XIX. Dalton em 1808 apresentou uma teoria sobre a constituição da matéria segundo a qual tudo o que há na natureza seria constituído de partículas indivisíveis e indestrutíveis. Haveria, ainda segundo Dalton, um número pequeno de diferentes tipos de átomos, que poderiam ser combinados para gerar a diversidade de materiais conhecidos.

O conceito de um número limitado de elementos diferentes, ou seja, com átomos diferentes, deu origem à Tabela Periódica, que julgo ser uma das conquistas científicas mais importantes de todos os tempos. A Tabela Periódica, com a ordenação dos elementos em ordem crescente de peso atômico, foi proposta em 1869 pelo russo Dimitri Mendeleev. O posicionamento dos átomos na tabela, e as modificações necessárias com a descoberta de novos elementos, requereram engenhosidade e grande capacidade de observação e análise de resultados experimentais. O porquê da ordenação proposta empiricamente – isto é com base em experiência sem um modelo teórico que pudesse explicar os resultados em detalhe – só surgiu com a teoria quântica.

Ao final do século XIX e início do século XX a convicção de que os átomos eram indivisíveis foi abalada com a verificação de que átomos contêm núcleos, carregados positivamente, rodeados por elétrons, que têm carga negativa. Novos modelos atômicos foram propostos, culminando com o aceito atualmente, ditado pela teoria quântica. Neste modelo, o núcleo concentra quase toda a massa do átomo, a despeito de representar apenas uma pequenina fração do tamanho do átomo. Para comparar, se o átomo fosse do tamanho de um estádio, como o Maracanã, o núcleo seria do tamanho de uma bola de futebol no seu centro.

Mas o núcleo também não é indivisível. Ele contém prótons, carregados positivamente, e nêutrons, que percebe-se pelo nome são neutros eletricamente. Além disso, os prótons e nêutrons são eles próprios constituídos de outras partículas, os quarks. Estes últimos são considerados partículas elementares, que foi a nova denominação encontrada para descrever as entidades de fato indivisíveis. Os elétrons também são partículas elementares.

Ao comentar a Tabela Periódica, mencionei peso atômico, que é a massa do átomo. Obviamente crescente com o número de prótons e nêutrons no núcleo. O elemento mais leve, o hidrogênio, tem apenas um próton. À medida que cresce o peso atômico, aumenta também a repulsão elétrica entre os prótons, uma vez que todos têm carga positiva. Como explicar então a estabilidade dos átomos? Se os prótons estão tão próximos entre si, pois o núcleo é pequeno, por que eles não se separam devido à repulsão? Ocorre que há entre prótons e nêutrons as forças nucleares atrativas. Estas últimas são de alcance muito pequeno, só se manifestando dentro do núcleo, e garantem a estabilidade do núcleo e consequentemente do átomo.

Quando o tamanho do átomo aumenta muito, com um número muito grande de prótons, a repulsão elétrica começa a vencer as forças nucleares, e o átomo fica instável. Este é o caso do urânio, que tem 92 prótons, e é instável. Ao perder partículas, um átomo de urânio libera energia, que é o princípio da geração de energia nuclear.

A importância da comprovação de modelos atômicos foi enfatizada pelo grande físico do Século XX, Richard Feynman, que disse que se só pudéssemos deixar uma única sentença para a próxima geração, ela deveria ser: “Tudo é feito de átomos”.

2 comentários:

  1. Seguindo o seu pensamento de que " se o átomo fosse do tamanho de um estádio, como o Maracanã, o núcleo seria do tamanho de uma bola de futebol no seu centro"
    Considerando que não existe nada entre o núcleo do átomo e seus elétrons, então a substância real do cosmo não ocupa nenhum espaço mensurável, ou seja, os minúsculos átomos são constituídos de imensos espaços vazios! Apesar disso, os objetos ao nosso redor parecem sólidos líquidos ou gasosos, e podem ser aquecidos, diluídos, transformados e tocados. Como a física explica isso?

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    1. Prezado George,

      Sua questão é bastante pertinente e não tem resposta simples, pois precisamos considerar aspectos diferentes da estrutura da matéria.

      Em primeiro lugar, talvez deva responder por que não detectamos facilmente o “vazio” entre os núcleos. Ocorre que a distância entre núcleos é da ordem de ângstrons (menos que um nanômetro), ou seja, o “vazio” está numa escala muito pequena e a maioria de nossas ferramentas de observação usa radiação com grandes comprimentos de onda (como luz visível). Isto é, o “vazio” não é facilmente perceptível.

      Mas o mais relevante é que consideramos espaços vazios entre os núcleos em termos da massa, uma vez que quase toda a massa do átomo está localizada no núcleo pois os elétrons são muito mais leves. Entretanto, os elétrons interagem entre si e com o núcleo, de maneira que a imagem de um vazio entre núcleos não é estritamente correta. É boa aproximação para a massa, mas não para as interações, e são as interações envolvendo elétrons que acabam por governar a formação de líquidos, sólidos, etc.

      Desta maneira, não há incompatibilidade entre a observação de massa concentrada no núcleo – que dá a impressão de a matéria ser formada por “vazios” – e a constatação de que são formados líquidos e sólidos.

      Atenciosamente

      Osvaldo

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