segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Descobertas por acaso

O sonho de qualquer cientista é descobrir algo espetacular, que possa contribuir grandemente para o avanço da ciência, ou explicar fenômenos que há muito se tentava entender. Ou ainda permitir grande retorno para a sociedade. Quem não gostaria de descobrir a cura para a AIDS ou o câncer? Nesses sonhos, imagina-se atingir metas buscadas com método científico, e que a descoberta advenha de um lampejo de inteligência, ou quiçá, genialidade.

Mas não é sempre assim. Em muitas descobertas importantes da história, o acaso teve papel predominante. São muitos os casos em que a descoberta é quase que totalmente fortuita. Em que o pesquisador descobre algo importante sem querer, sem estar procurando ou minimamente interessado no problema que levou à descoberta. Isso não desmerece de nenhuma maneira o trabalho do cientista. Mesmo quando a sorte ajuda, ainda assim é necessária capacidade de identificar a descoberta e reconhecer sua importância e implicações.

Menciono um exemplo recente de descoberta por acaso. Trata-se da descoberta da condução elétrica em polímeros, em 1977, a partir de um erro de comunicação entre um pesquisador japonês, Prof. Shirakawa, e seu estudante coreano. Ao receber a receita para sintetizar o polímero, o estudante compreendeu erroneamente e colocou muito mais de um produto químico do que deveria. Com isso, o polímero que seria praticamente incolor apareceu de cor metálica.

A astúcia do Prof. Shirakawa fez com que ele não só percebesse que havia algo muito errado, mas também que o material obtido poderia ser muito importante. De fato, pouco tempo depois ele mostrou o material a dois outros professores, Alan Heeger e Alan MacDiarmid, dos EUA, que juntos propuseram que os plásticos também podem conduzir eletricidade. Esta descoberta e o subseqüente desenvolvimento da área – que hoje permite até que se pense em produzir TVs de plástico – fizeram com que os três professores, Shirakawa, Heeger e MacDiarmid, recebessem o Prêmio Nobel de Química em 2000.

Uma descoberta antiga, completamente por acaso, foi a da relação entre eletricidade e magnetismo. Desde a Grécia Antiga, eram conhecidos fenômenos de eletricidade – por exemplo a geração de cargas por atrito entre dois corpos – e de magnetismo, com a atração e repulsão em ímãs. Mas somente no início do Século XIX, por volta de 1820, é que se descobriu que uma corrente elétrica poderia afetar a agulha de uma bússola. Ou seja, a partir de eletricidade é possível gerar magnetismo.

Esta descoberta fez com que Michael Faraday, um cientista inglês, empreendesse uma busca que durou quase uma década. Imaginou Faraday que se eletricidade gera magnetismo, o inverso também deveria ocorrer, com magnetismo gerando eletricidade. A comprovação dessa expectativa veio com a lei de indução de Faraday, na qual se baseia a geração de energia elétrica nas usinas hidrelétricas.

Embora esta coluna tenha enfatizado descobertas fortuitas, não posso deixar de mencionar que contribuições científicas podem ter caráter completamente distinto. Ilustro com duas descobertas de Albert Einstein, em 1905. A teoria da relatividade previu a contração espacial e a dilatação temporal, que só puderam ser comprovadas anos mais tarde. Já a outra descoberta, a do efeito fotoelétrico, foi uma teoria que explicou prontamente um efeito observado em 1887, dezoito anos antes.

Noutro dia li nos jornais uma outra descoberta por acaso. A da cura da calvície. A julgar pelo número de calvos que andam por aí, ou por aqui, esta descoberta pode ter sido fortuita, mas os resultados parecem não ser definitivos.

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