segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Nanotecnologia chega ao Nobel

A divulgação do Prêmio Nobel de Física de 2007, concedido aos pesquisadores Albert Fert, da França, e Peter Grünberg, da Alemanha, foi agradável surpresa para os entusiastas da nanotecnologia. A descoberta que levou ao Nobel ocorreu em 1988, quando foi observado o fenômeno de magnetorresistência gigante em materiais magnéticos preparados com métodos da nanotecnologia.

A magnetorresistência é uma característica de metais, que têm sua condutividade elétrica afetada pela aplicação de um campo magnético, como de um ímã. Em geral esse efeito é bastante pequeno, com uma alteração na resistência à passagem de corrente elétrica de apenas 1 a 3%. A grande descoberta foi a de que estruturas metálicas dispostas em camadas de dimensões nanométricas (1nm é um milionésimo de 1 mm) podem ter sua resistência alterada em até 50%. Tais estruturas continham sanduíches de ferro recheados com uma camada de apenas 3 átomos de cromo de espessura. Deu-se o nome a esta propriedade de magnetoresistência gigante.

À primeira vista, essa descoberta parecia ficar apenas no âmbito da física, do magnetismo. Entretanto, logo se percebeu que uma alteração tão grande numa propriedade elétrica de um material poderia ser explorada em aplicações práticas. Isso ocorreu com as memórias de computadores, uma vez que já se empregavam materiais magnéticos para produzir os discos rígidos. Nestes, a gravação da informação é feita por um cabeçote magnético que aplica pulsos de corrente elétrica para magnetizar o disco. A leitura é feita pelo mesmo cabeçote, ao detectar correntes quando passa sobre regiões magnetizadas do disco. A vantagem de empregar magnetorresistência gigante foi a de permitir produzir elementos de memória cada vez menores.

O resultado é conhecido por todos. Com o grande aumento da capacidade de memória, foi possível fabricar computadores de colo e de bolso. Mais recentemente permitiu a criação dos aparelhos MP3 e MP4. De certa forma, houve uma revolução na maneira pela qual ouvimos música e armazenamos informações. Tudo isso devido a uma descoberta de física!

Talvez a publicidade associada ao Prêmio Nobel convença um número maior de pessoas da importância de pesquisa básica para o desenvolvimento de uma Nação. Principalmente em áreas multidisciplinares, com abordagens integradas, como é a Nanotecnologia. Para aqueles que trabalham neste campo, entretanto, as conseqüências benéficas não são surpresa. A cada dia são relatados casos em que a organização de materiais com controle no nível atômico e molecular faz com que propriedades diferenciadas apareçam. Como foi o caso dos sanduíches de ferro e cromo que apresentaram magnetorresistência gigante.

O artigo científico que primeiro descreveu a magnetorresistência gigante, publicado em importante revista americana, tinha um brasileiro como primeiro autor. É o Prof. Mário Baibich, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tínhamos a expectativa de que ele também pudesse ser agraciado com o Prêmio Nobel, que seria o primeiro concedido a um brasileiro.

O possível júbilo que tal acontecimento teria gerado, para mim foi compensado com a grandeza da reação do Prof. Baibich ao tomar conhecimento do Prêmio. Além de se declarar extremamente feliz com o Prêmio que seu colaborador francês recebeu, humildemente disse não se sentir frustrado porque o Prêmio foi concedido não apenas pela descoberta, mas também pelo desenvolvimento de áreas relacionadas à magnetorresistência gigante. O Prêmio é de cerca de 1,5 milhão de dólares. À grandeza da atitude do Prof. Baibich não se pode atribuir preço.

Nenhum comentário:

Postar um comentário