segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Controle remoto e comportamento humano

Dizem que o controle remoto exerce grande fascínio sobre os telespectadores, principalmente pelo poder de trocar o canal da TV a qualquer momento. Parece que na maioria dos lares, são os homens que gostam de manusear o controle. Será busca pelo poder? Para as emissoras de TV, o controle remoto representa um grande problema, já que precisam manter a atenção do telespectador e evitar que este mude de canal. Quando e por que se troca o canal?

Esta pergunta interessa às emissoras por razões óbvias. Meu interesse está numa generalização da pergunta: É possível prever o comportamento humano?

Uma importante corrente de filósofos e boa parte dos especialistas em ciências sociais e psicologia acreditam ser impossível descrever detalhadamente o comportamento humano, de tão complexo que é. E tão dependente de variáveis sobre as quais há pouco ou nenhum controle. Por outro lado, há muitos cientistas que acham ser possível aplicar ao estudo do comportamento humano métodos de análise comumente empregados nas ciências exatas, e com isso ter alguma capacidade de explicar e prever comportamentos. Esta também é minha opinião.

Suponhamos uma experiência imaginária com um sistema computacional para prever quando um determinado telespectador mudará de canal. Para desenvolver tal sistema, filmaremos o telespectador por meses a fio, registrando todas as suas reações, movimentos de olhos, pernas, braços e tronco. Todas as imagens serão digitalizadas e armazenadas num grande banco de dados. Além disso, monitoraremos a pressão e batimentos cardíacos, e o que é mais importante, registraremos sua atividade cerebral. Isso é possível com tomografia computadorizada, em que sinais elétricos são captados em diferentes regiões do cérebro, que podem ser correlacionados com sensações de prazer, tristeza, etc. O conhecimento sobre a atividade cerebral está longe de ser completo, mas já pode dar bons indicativos com a tecnologia atual. Por último, registraremos as condições da sala de TV, como temperatura, iluminação e localização do telespectador. Nosso sistema terá informação, também, de tudo o que a TV está mostrando.
Manipular e interpretar a imensa quantidade de dados armazenados por um sistema como o descrito acima é um grande desafio. Para isso podemos recorrer a métodos de computação, como mineração de dados, visualização de informação, e inteligência artificial. Tudo isso será integrado no sistema que ainda empregará métodos estatísticos e modelos matemáticos, para finalmente fazer a previsão do que o telespectador fará a partir do que está vendo na TV.

Há várias perguntas que se pode fazer sobre o experimento. Em primeiro lugar, vale a pena tanto esforço só para saber uma única informação, a de quando o usuário troca o canal? E que vale só para um usuário? Mais importante ainda é que com a tecnologia atual, lidar com tantos dados para a previsão fará com que o sistema demore muito até chegar numa resposta. Ou seja, ao analisar o comportamento presente do telespectador, talvez o computador leve horas para prever o que o telespectador fará nos próximos segundos. Isso obviamente não serve como sistema de previsão. Mas lembremos que a capacidade computacional está aumentando rapidamente. Não é inconcebível imaginar que tarefas que hoje demandam horas, daqui a algum tempo requererão apenas alguns segundos.

Para o leitor que acha o sistema de previsão complicado demais, não servindo de argumento a favor dos que acreditam ser possível prever o comportamento humano, dou exemplos mais simples. Você concorda que uma pessoa que detesta futebol mudará de canal rapidamente quando estiver passando uma partida na TV? Será apenas questão de saber quanto tempo levará a mudança no controle remoto. Se eu fosse o telespectador sob análise, entretanto, você pode apostar que eu dificilmente mudaria de canal se estivesse passando um jogo ao vivo do Santos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário