domingo, 16 de agosto de 2009

Informação é conhecimento?

Já é lugar-comum dizer que vivemos numa Sociedade da Informação. Há inclusive projetos governamentais em vários países para o desenvolvimento de estratégias de disseminação da informação, quase sempre centrados em inclusão digital.

O termo “sociedade da informação” adquiriu significado próprio. De fato, a disponibilidade de informação aumentou de maneira espetacular em pouco mais de uma década. Principalmente informação em meio eletrônico, tendo como marco a criação da Internet. Havia, inclusive, uma expectativa de diminuição do fosso entre nações desenvolvidas e subdesenvolvidas (ou em desenvolvimento), uma vez que a informação agora pode ser amplamente disseminada com baixo custo. Ledo engano! De quase nada adianta ter acesso à informação se não formos capazes de transformá-la em conhecimento.

A distinção entre informação e conhecimento é crucial para um país traçar suas políticas. Informação é o que está nos livros, jornais, artigos científicos, relatórios, nos diversos textos da Internet, em vídeos, filmes, etc. Enfim, conteúdo que pode estar em diversas mídias. Uma vez disponível, a informação tem existência própria, não precisa da intervenção humana.

Já o conhecimento, não. Ele só aparece a partir da atuação humana, requerendo processamento de informação, que pode ter graus diferentes de sofisticação. Se a informação está disponível em uma língua estrangeira, precisamos traduzi-la ou conhecer tal língua para processá-la. Se aparece na forma de modelos matemáticos, necessitamos conhecer tais modelos para decifrar o conteúdo. Posto de outra forma, adquirir conhecimento pressupõe acesso à informação, mas a recíproca não é verdadeira. Ter a informação não necessariamente leva ao conhecimento.

E progresso cientifico e tecnológico é baseado em conhecimento. Ainda que para se atingir tal conhecimento seja necessária muita informação. A conseqüência mais nefasta, para os países pobres, dos requisitos para atingir conhecimento é que a criação de conteúdo a uma velocidade fantástica, como a que assistimos hoje, leva a um aumento do fosso para os países ricos. Porque a disponibilidade de mais e mais informações traz a necessidade de ferramentas cada vez mais sofisticadas de processamento da informação.

Óbvio que o domínio dessas ferramentas em si representa conhecimento, e portanto países detentores do conhecimento tendem a levar ainda mais vantagens. Ou seja, a globalização da informação nada tem de democratizante, porque alimenta o círculo vicioso em que os países dominantes se beneficiam mais.

Pode-se argumentar que grande parte do conteúdo disponível no mundo foi gerado (e portanto custeado) pelas nações desenvolvidas. Em outras palavras, essas nações oferecem muito mais do que recebem dos países menos desenvolvidos. Isso é fácil comprovar a partir de um levantamento do conteúdo digital na Internet, por exemplo. Entretanto, mesmo contribuindo muito menos, países subdesenvolvidos são normalmente incapazes de gerar conhecimento (e riqueza) a partir da informação disponível.

Voltando à chamada Sociedade da Informação, acho que seria mais adequado empregar o termo Sociedade do Conhecimento. Neste aspecto, acho impreciso dizer que esta é a era do conhecimento. Os humanos sempre viveram numa Sociedade do Conhecimento. Não é característica somente dos dias atuais. Em todas as épocas, deter conhecimento foi essencial para o desenvolvimento e mesmo dominação. Quer seja para a guerra ou para grandes navegações, o conhecimento sempre foi crucial para o sucesso de uma Nação.
Sou fascinado por conhecimento. É lógico que admiro aqueles que sabem coisas complicadas, aprendidas em longos anos de escola. Mas o que mais me encanta é o conhecimento, muitas vezes tido como simples, mas sempre útil. De um borracheiro recauchutando um pneu, o confeiteiro com as mãos mágicas fazendo coisas deliciosas – que só ele sabe fazer, a bordadeira criando um padrão de rara beleza. Por fim, o conhecimento supremo dos sábios e sábias: o da alma humana.

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