segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Vestibular e a escolha de uma carreira - I

A escolha de uma carreira no Vestibular é quase sempre aflitiva para os jovens, e até para suas famílias. Não existem regras para escolher adequadamente, e mesmo os critérios nos quais muitos se baseiam para definir a carreira são subjetivos. Eu também não vou apresentar fórmulas mágicas para a tomada de decisão, mas vou discutir aspectos que podem auxiliar. Farei isso em duas colunas. Na de hoje, vou tratar dos requisitos para formar um profissional bem-sucedido. Na próxima coluna, comentarei as vantagens e desvantagens na escolha de carreiras mais e menos específicas.

Quais características e habilidades esperamos de um profissional do futuro? Independentemente da profissão, a rápida evolução das tecnologias e a crescente importância do conhecimento requerem que o profissional seja capaz de se reciclar, e continuar aprendendo sempre. Em outras palavras, para ser um profissional de sucesso, uma pessoa tem que aprender a aprender.

Entram em jogo as linguagens do conhecimento. Como já enfatizei em coluna anterior, são duas as linguagens do conhecimento que devem ser dominadas para permitir aprendizado eficiente – de qualquer tema. São as línguas naturais, como o português, inglês, etc., e a linguagem dos formalismos matemáticos. A exigência de um bom domínio da língua escrita e falada parece ser óbvia, pois em qualquer profissão precisamos nos comunicar. Vou além. Esse bom domínio é crucial para o profissional adquirir novos conhecimentos, que é importante em qualquer área. Por exemplo, um médico – mesmo com excelente formação – necessitará se atualizar quanto aos novos procedimentos e uso de equipamentos que surgem a cada dia.

A necessidade de uma formação sólida em formalismos matemáticos é menos óbvia para profissões como as de humanidades e ciências biológicas e da saúde. Entretanto, a tendência de abordar questões ou temas de maneira multidisciplinar e integrada é irreversível. Portanto, profissionais de áreas tão distantes da matemática, como lingüistas, do serviço social ou direito, precisarão estar preparados para análise de dados e resultados que requeiram algum tratamento matemático.

Vou exemplificar com o serviço social. Um profissional de alto nível tem que compreender e elaborar políticas eficazes de combate à pobreza, redistribuição de renda, entre outras tarefas. Para tanto tem que analisar programas anteriores, no País ou no exterior, e antever resultados de diferentes tipos de ação. Isso só pode ser atingido com modelos adequados, normalmente envolvendo tratamentos estatísticos e conhecimento matemático que vão além dos adquiridos até o Vestibular. Este exemplo se aplica a muitas outras áreas, o que já é sentido em Biologia, com o advento da Biologia Molecular e Genômica.

Sei que minha análise parece privilegiar cursos universitários das áreas de exatas, por proverem o ferramental dos formalismos matemáticos. Entretanto, estudantes em cursos de exatas em geral exercitam menos sua capacidade de comunicação, e infelizmente raras vezes cursam disciplinas dedicadas a línguas e métodos de análise e síntese de textos. Neste último aspecto, ficam em desvantagem.

De qualquer forma, insisto que uma formação mais abrangente de matemática se faz necessária. Os futuros profissionais devem estar cientes disso. Minha esperança é que os cursos de humanidades e ciências biológicas sejam atualizados – como já está acontecendo em alguns casos – de maneira a estender a formação que oferecem.

As exigências para formar um profissional com grandes chances de sucesso não são poucas, como deve ter ficado claro. Muito já se fala da necessidade de saber inglês e informática – e agora acrescento o requisito de habilidade para analisar resultados. Por outro lado, uma formação de qualidade permite grande flexibilidade em possíveis mudanças de profissão, hoje tão comuns. Isso é o assunto da próxima coluna.

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