quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Precisão de um relógio atômico para um encontro amoroso

Não pode haver encontro a ser levado mais a sério do que um encontro amoroso, em que é crucial a pontualidade – e obviamente ir ao local correto. Com que precisão é necessário ser pontual para tal encontro? A maioria de nós dirá que a precisão de um minuto é suficiente, e assim bastaria ter um relógio de pulso comum ou mesmo um telefone celular, marcando a hora certa.

Discordo. Nos dias de hoje, precisamos de um relógio atômico. Explico o porquê.

Muitos de nós usamos serviços de GPS (da sigla global positioning system) para nos dirigirmos a qualquer local aonde não vamos regularmente. E o GPS não funcionaria corretamente se não fosse baseado na utilização de relógios atômicos, como enfatizado no ensaio anterior. Ou seja, indiretamente precisamos de relógios atômicos para chegar pontualmente no local do encontro, a despeito de que não tenhamos a pretensão de uma precisão de nanossegundos.

Afinal, o que é um relógio atômico? Inicio a explicação relembrando o conceito de medida de tempo, que pode ser feita a partir de qualquer fenômeno periódico. Pode ser o período de rotação da Terra, da oscilação de um pêndulo ou de gotas d’água que caem de uma torneira mal fechada. É fácil compreender que a precisão de tal medida dependerá basicamente de duas coisas: a regularidade do fenômeno e a frequência com que se repete. No caso da torneira, por exemplo, uma inspeção simples mostrará que o pingar das gotas não é tão regular quanto se gostaria para medir tempo. Por isso, ninguém pensaria em usá-lo. No que tange a frequência, fenômenos que acontecem com baixa frequência não permitem medir tempos muito pequenos, ou com muita precisão. Como medir evento que dure um microssegundo (1 milionésimo de um segundo) se o período de oscilação de um pêndulo é da ordem de um segundo?

Para os relógios de pulso, um grande avanço em precisão foi alcançado há algumas décadas com a utilização de cristais de quartzo, que são materiais com propriedades piezelétricas. Um material piezelétrico gera um sinal elétrico ao sofrer pressão, e também apresenta o efeito inverso. Ou seja, ele se expande ou contrai sob estímulo elétrico. Ao excitar um cristal de quartzo com um sinal elétrico periódico, numa determinada frequência, denominada frequência de ressonância, observa-se máxima vibração ou efeito piezelétrico.

Para usar uma frequência de referência na medida do tempo, contam-se os ciclos de vibração do cristal de quartzo durante um evento, e compara-se com a frequência de ressonância do cristal (a usada nos relógios é de 32.768 oscilações por segundo, isto é, 32.768 Hz). Um exemplo de contagem simples é o de um fenômeno que ocorre uma vez por segundo, isto é, com frequência de 1 Hz. Se a contagem der 60 ciclos, significa que a duração do evento foi de 60s.

Um relógio atômico funciona segundo princípios muito semelhantes ao do relógio de quartzo. A grande diferença está no fenômeno físico responsável pela ressonância. Ao invés de ser a resposta a um estímulo macroscópico como no cristal de quartzo, num relógio atômico átomos são excitados por ondas eletromagnéticas e são observadas transições eletrônicas de acordo com a teoria quântica. Por isso são chamados de relógios atômicos.

Também relevante é que a frequência de referência é muito mais alta. Nos relógios atômicos mais usados, empregam-se átomos de césio-133 cuja frequência é 9.192.631.770 Hz. Ou seja, para 9.162.631.770 oscilações, o relógio interpreta que se passou um segundo, o que garante precisão muito maior. Para comparar, um relógio baseado no movimento de rotação da Terra atrasaria um segundo por ano, enquanto os relógios atômicos mais precisos levariam 30 milhões de anos. A altíssima precisão de relógios atômicos é essencial para controlar a frequência das ondas de transmissores de televisão e para os sistemas de navegação por satélite.

Se você se guia por um GPS para chegar a tempo num encontro amoroso, está se aproveitando do trabalho de muitos pesquisadores que desenvolveram e desenvolvem relógios atômicos. 

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