Ninguém
duvida que a Internet tenha sido uma das criações mais importantes de toda a
história, com um impacto imenso em nossas vidas. Poucas inovações alteraram de
maneira tão marcante a forma de viver dos humanos, por afetar todo tipo de
atividade.
Apesar
de reconhecer a maravilha e a utilidade da Internet, constatei com surpresa uma
limitação sua crucial: a Internet foi feita só para os humanos, e não pode ser
usada pelas máquinas (não facilmente pelo menos!). Percebi essa limitação após
o físico Tim Berners-Lee criar o conceito de Web Semântica, que explicarei a
seguir. Ele, que foi um dos pioneiros da Internet, deve também ter verificado
que poderia ter sido mais ousado, e já de início conceber um sistema passível
de uso por computadores ou máquinas.
Notem
que, a despeito de robôs virtuais poderem fazer busca e agir na Internet, quase
sempre é necessária a intervenção humana. Para a maioria esmagadora dos usos
que fazemos da Internet, precisamos nós mesmos buscar a informação e
processá-la.
Para
que pessoas possam ter acesso a páginas na Internet em diferentes línguas e dispositivos
de acesso, como computadores diferentes e outros meios, é necessário padronizar.
O conteúdo exposto pelo responsável por uma página na Internet é codificado de
tal maneira que textos e imagens apareçam com as cores e localizações
pretendidas. Apesar dessa padronização, a interpretação do conteúdo só pode ser
feita por humanos, pois não há marcas que permitam a uma máquina inferir o que
está escrito ou mostrado.
Na
concepção da Web Semântica, Tim Berners-Lee – que para mim se redimiu de ter criado
uma Internet limitada a humanos – propõe que todo o conteúdo de uma página
tenha marcas semânticas, tornando-o passível de interpretação automática por
uma máquina.
Para
exemplificar os benefícios da implementação de um sistema como o da Web
Semântica, discutirei uma aplicação bastante simples. Suponhamos que um grupo
de 10 casais fosse a um casamento em outra cidade. Eles poderiam contratar um agente
de viagens que teria a seguinte missão:
i) Reservar os 10
quartos de hotel, preferivelmente no mesmo hotel para todos, e que seja próximo
do local do casamento.
ii) Organizar
transporte do aeroporto até o hotel ou hotéis.
iii) Marcar horários
em salões de beleza para as 10 esposas. Como são muitas, provavelmente seria
necessário utilizar mais de um salão.
iv) Organizar
transporte para as esposas até os salões de beleza e de volta para o hotel.
Aqui é essencial garantir que todas voltem a tempo para o casamento, o que
também requer que a localização dos salões seja conveniente.
v) Como os maridos
terão tempo livre, querem assistir a um jogo de futebol na televisão, em um
canal pago de esportes que provavelmente não está disponível no hotel (ou
hotéis). O agente deve verificar a disponibilidade, e se não houver, reservar
mesa num bar de esportes em que o jogo será mostrado. Também é necessário
organizar transporte e escolher um bar em local conveniente.
Provavelmente
o agente usará a Internet para todas essas tarefas. Devido à necessidade de
sincronização e verificação da duração de alguns eventos, é quase certo que
alguns agendamentos serão feitos por telefone. Apesar de serem tarefas muito
simples, hoje apenas um agente humano consegue realizá-las.
Com
a Web Semântica, a expectativa é que um agente “virtual”, de software, pudesse
cuidar de todas as tarefas mencionadas. Não é difícil imaginar que as
informações nas páginas de hotéis, salões de beleza e agências de táxi teriam
que ser mais completas do que são hoje. E o mais importante, que as
informações pudessem ser processadas por uma máquina, o agente virtual em nosso
caso.
Embora
continue achando a ideia genial, não acredito que a Web Semântica possa ser
implementada como inicialmente proposta. A grande dificuldade está na
necessidade de que todo o material colocado na Internet seja recodificado. Na
época da proposição da Web Semântica, em 2001, a Internet era relativamente
recente e talvez fosse viável iniciar novas páginas já com a codificação
semântica. Isso seria impossível hoje.
De
qualquer forma, talvez o leitor tenha percebido que – mesmo sem Web Semântica –
estamos nos aproximando de agentes virtuais como o mencionado acima. Basta
lembrar dos aplicativos que surgem a cada dia, principalmente para os telefones
celulares. São inúmeras as tarefas que podem ser executadas para facilitar
nossas vidas, incluindo a escolha de melhores rotas para evitar
congestionamentos e informação sobre restaurantes nas imediações.
Seja
com um conceito como a Web Semântica ou com aplicativos cada vez mais
sofisticados, os agentes virtuais só serão úteis se puderem se comunicar
conosco em língua natural. Pois queremos passar instruções como escrevi na
especificação da tarefa relacionada ao casamento acima, por texto ou fala. Se a
comunicação com o agente virtual exigir conhecimento de sistemas computacionais
e muitas interações com o usuário, será mais fácil executarmos as tarefas nós
próprios. Como fazemos hoje com a nossa limitada
Internet.
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